“Dia das Mães” – Sentimento ou Dinheiro?
- “Dia das Mães” – Sentimento ou Dinheiro/$$$”?
*uma reflexão sobre a manipulação da mulher-mãe*
Mauro M Burlamaqui
-I-
Hoje, pensei em você, amigo , amiga, na sua vida , família, dia a dia, problemas. Bem como em mim mesmo e nos meus . Visualizei você e os que o cercam – e refleti , quando se comemora o “Dia das Mães, festividade que tem mudado muito através dos anos – para pior.
“Dia das Mães” , surgido, oficialmente , nos EUA, líder do Império do Capital , 1914, via presidente Woodrow Wilson , sulino , democrata , eleito em 1912 , tendo apoiado a segregação racial e a supremacia branca, o que dá a pensar .
O “Dia das Mães poderia ter-se constituído em dia de alegria interior e exterior – homenagem efetiva e humanística às mulheres e mães – mas , não tem sido bem assim. Gradativo, ou desde o início (?!) foi apropriado pelo dinheiro/$$$ e interesses financeiros .
Aquela menina que lamenta não ter, nesse dia , como dar presente mais caro à mãe, ou sequer um presentinho , tem esse seu frustrado comportamento ligado a toda a sociedade.
Em nossos dias, ao impiedoso capital selvagem imperialista. Não há exagero . Aquele mesmo…que explora nações, dirige um Império, provoca guerras , fez centenas de invasões e golpes, jogou bombas nucleares, matou milhões de pessoas na busca por petróleo ou nióbio – e que arrasou o Iraque, Líbia, Vietnan . Hoje, metido na Ucrânia, incentivando-a e financiando-a, ostensivo, contra a Rússia.
-II-
O dia das “mães” tornou-se mais um dia quase todo comercial , de incentivo a vendas – faz-se quase apenas propaganda de presentes para elas – desde automóveis, ricas casas, móveis, aos mais simples , caso de livros, celulares à prestação , ventiladores ou mesmo flores .
A mídia, em especial a televisiva, mais internet , não esconde a alegria nessa data, nem a exibição contínua de lojas , shoppings e supermercados cheios . De fato , ela também faz sua festa, mediante sucessivos caros anúncios, o que torna tal dia altamente lucrativo .
O objetivo –vender, lucro – capital , em resumo, a qualquer preço possível , mesmo com sacrifício e exploração de valores e seres humanos – crianças, mulheres, sexo , amor , alimentação , doenças, mortes. Vale tudo . Aproveita-se os melhores sentimentos humanos , a gravidez, o amor maternal e filial – e submetem-nos ao interesse do Grande Capital- lucro acima de tudo.
-III-
Do mesmo modo, são explorados os piores defeitos humanos – ambição, inveja , luxúria, gula – estimulados, caso a caso, para promover vendas , seja ao preço da saúde humana, morte, desmoralização e liquidação de famílias, desorientação de crianças, jovens , adolescentes .
Assim, promove-se cigarros, álcool, açúcar (provado prejudiciais à saúde ) , “amor livre”, por exemplo , do mesmo modo que países ricos retém patentes de vacinas e remédios , cuja liberação implicaria em poupar milhões de vidas .
Não importa que isso implique em destruir famílias, já confusas com a inflação, desemprego , transporte deficiente , estradas esburacadas , doenças novas e descontroladas, instituições e serviços públicos deteriorados , Estado disfuncional . A prostituição feminina ou masculina, ao fundo , por exemplo , de fato , é justificada , “compreendida” e estimulada , na medida em que sexo e beleza , submetidos à quantificação monetária e à lógica do Capital, produzem lucros . Seja através de filmes, pornografia, anúncios , ou do próprio casamento, reduzido o amor e sentimento , por séculos, apenas a transações monetárias entre famílias , nobres e empresários .
A mulher, a mãe, a gravidez , tudo tem sido reduzido a interesses menores, patriarcais, dos interesses dominantes das sociedades . Como não lembrar que a mulher viria da “Costela de Adão” ? Interprete-se tal como quiser , isso explicita muita coisa .
Amor , sentimentos, relacionamentos naturais, tudo, longo tempo , reduzido à quantificação monetária – tem mais amor ou dedicação quem mais gasta , sacrifica mais …o bolso . Tal mostrado em novelas, romances , contos, narrativas diversas , só mais recente aumentada a divulgação de críticas a tais posturas . Ainda que submetidas a doses muito maiores de propaganda em sentido contrário.
-IV-
Assim tem sido , conveniente, reduzida a dimensão daquela que muitos dizem-se dispostos a homenagear- a mulher-mãe. Que , hoje , é em nossa sociedade , mulher-mãe em perspectiva amplíssima – porque também mãe de netos, sobrinhos , parentes, crianças ,adultos , famílias .Ah, e de clãs, tribos, povos , nações. Até de cachorrinhos, gatos, animais diversos . Quando não , boa parte, dos próprios maridos ou companheiros .
A visão monetária dessa questão atinge a sociedade, a todos , mesmo os que querem , sentimentalmente, homenagear as “mães”, e com razão – uma especial e única , figura social .
Mas, nessa sociedade, sempre os “ricos” irão reduzir , apenas a dinheiro, o que deveria ser uma troca de sentimentos mais que familiares – sociais, coletivos. Fato que numa sociedade em crise, irá sempre agradar , fora comerciantes, alguns parentes, óbvios motivos.
Apela-se, no caso , dias atuais, às características mais “animais” do Homem , egoísticas,violentas. Vai-se ao encontro da agressividade humana , instinto, que Freud bem estudou . Tais instintos tem sido estimulados , dia a dia , em busca do lucro , e mais especialmente, em datas como o Natal , Ano Novo , Páscoa ou “Dia das Mães” .
Se , em períodos de maior estabilidade, e ascensão do Grande Capital , corporativo , isso era feito de forma mais mascarada, e mesmo discreta, hoje o apelo às vendas, lucros , presentes – e instintos os piores do Homem – é acintoso. Vai do estímulo de diferenciar, socialmente, desde a casa ou móveis ou carros mais bonitos e caros do que os do vizinho ou parente ou amigo ou conhecido na internet . Tal distinção , que costuma virar disputa , atinge mesmo a qualidade de bairros onde cada um mora .
Chega-se mais longe ainda. A propaganda estimula disputa e imitação sociais de roupas à forma física , dentes, maquilagem, plásticas , viagens ao exterior . Lucro antes de tudo . Or,daí , evidente, chega-se aos presentes de dias “especiais”- de fato comerciais – caso do enfocado “Dia das Mães”.
Tudo ao contrário , forma hipócrita, do objetivo de uma verdadeira homenagem à Mulher e Mãe, bases da
Humanidade e do nível de civilização que atingimos.
Quem mais promove tal atual falseado dia são as camadas dominantes, digamos assim, que tem poderio financeiro e pensam apenas em lucros .
Sob a superfície sentimental , o dia de homenagear aquela mulher tão especial torna-se ótimo dia para acumular capital , melhorar os negócios, estabelecer relações .
-V-
A palavra mãe , nesse contexto , acaba por perder o sentido .Trata-se mais de apenas símbolo falseado , “mãe coletiva”, endeusada pela sociedade do capital , porque representa hipocrisia , apelo a instintos – e , afinal , lucros sempre maiores . Ao fundo, mãe e família manipuladas , financeira e coletivamente . Quem é homenageada e quem homenageia . Sempre em função de lucros de uns poucos.
Houve o total desvirtuamento desse dia das “mães” , que poderia ser efetivo importante em termos de reflexões individuais e coletivas premiações, concursos , inaugurações de estradas e pontes, lembrança de mulheres heróicas como Anita Garibaldi , ou Olga Benário , entre outras .
Por tudo isso, nessa data, segundo domingo de maio, pouco se relembra de figuras como Simone de Beauvoir , Frida Khalo , Madre Teresa de Calcutá ou Jinga , Ângela Davis, Lucia Murat, Zuzu Angel , Paraguaçu – não importa se mães no sentido estrito ou não . Tais lembranças não são convenientes aos interesses predominantes . Nem discussão maior sobre o papel de muitas heróicas mulheres-mães – “mãelheres”, melhor dizendo .
Ninguém fala naquelas destacadas mulheres , e há muitas outras , não se debate suas vidas, persistência , razões. Discute-se superficialidades, presentes, preço de presentes, se as lojas estão cheias ou não , qual o limite de gastos do povo , a média deles, tudo quantificado e reduzido a dinheiro/$$$, lucro, capital – e bem sabemos por que .
Lembre-se que tudo isso ocorreu, “mutatis mutandis” , também com a Páscoa, “Dia dos Pais”, Natal , Ano Novo e até “Dia dos Namorados”. Este, ao invés de tornar-se singular “Dia do Amor”, virou ,como os demais, dia de boates, gastos, comilanças, mensagens superficiais – gastos e mais gastos, por vezes sem sentido , aumentando doenças ,endividamentos e crises familiares , em alguns casos.
( Assinale-se que o povo sofrido , ainda assim , curte tais datas, face à tradição e às carências coletivas de lazer, descanso , valores sentimentais, alienação , face ao frustrante dia a dia dos trabalhadores . O que inclui, especialmente, a homenageada, em geral muito sofrida).
-VI-
O fato é que , ao meio da festa de superficialidades e hipocrisias , dinheiro ao fundo , não generalizada , mas bem propagada, costuma-se esquecer a mãe-mulher lutadora, até armas nas mãos, morrendo como enfermeira ou em guerras ou enfrentando riscos e sofrimentos , na gravidez. Em todas, ainda a responsabilidade permanente na educação , desenvolvimento de seres humanos, toda a vida – seu exemplo , fundamental , como fator educacional.
Mulher /mãe explorada durante séculos , mais recente forçada a jornadas duplas ou triplas, face ao desemprego e crise econômica e social crescentes . Gradativo, mulher-mãe que vai assumindo papéis anteriores do “homem”, que mostra-se em maior crise, pois direto mais ligado às tradições exploradoras de trabalhos sob o Capital . Ausenta-se mais de casa e dos valores familiares, sentindo, mais direto, situações comuns de humilhação , falta de oportunidades, desigualdade , segregação de classe e racial. Fora desgastes com transporte e más condições de trabalho.
Ao final, um homem confuso, parcialmente perdido, fato agravado por crescente e maior participação social e econômica feminina .Daí , o resultado : problemas psicológicos de todo tipo.
Além disso , com a ascensão mundial do Grande Capital, corporativo , a mulher foi jogada direto no mercado de trabalho, com problemas diversos, mas conquistando alguma autonomia oriunda de menor dependência masculina . Agora, com recursos próprios, mas não preparada para enfrentar a exploração e violência masculinas , passa a sofrer mais disputas , agressões, xingamentos, separações violentas . Veja-se os “feminicídios”, alguns com ataques mortais a filhos e parentes próximos. As instituições não dando conta da situação, a clamarem apenas quase que por leis como a “Maria da Penha” .
Por tudo isso , amigo/a , resolvi levar a VOCÊ, ser humano, mulher ou não , estas linhas – por considerar mal resolvida a questão da mulher e mãe na nossa sociedade. Em que pese ela, maioria, hoje, do povo brasileiro .Uma questão mal conduzida na sociedade e por intelectuais , em novelas e livros, exacerbando-se questionamentos em sentidos contrários , confusos , longe do real conteúdo das questões.
No “Dia das Mães”, e não do dinheiro, do comércio , ou do poder financeiro sufocante, um bilhete a nossos amigos/amigas . Sabendo-se que apenas falar , por demagogia, em “todas” e “todes” , ou “amigos e amigas”, como alguns fazem , pouco acrescenta .
É preciso mais da sociedade, porque ela é que precisa mais das mulheres – na política, vida social , segurança pública, instituições , família. Há premência e até apelo quanto à participação maior dela , seja para reivindicar para si mesma , como tem acontecido , como para todos – lutas em especial por maior igualdade , democracia , respeito pela dignidade humana .
Em resumo, para todas elas , uma palavra- OBRIGADO. (*)
caminhandojornal.com
Caminhando Jornal TV
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(*)Original não revisado , o que não impede o entendimento.
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