A Incerteza como Horizonte
A Incerteza como Horizonte
[Editorial de Caminhando Jornal TV nº72]
Hiran Roedel
Bolsonaro perde popularidade e seu governo vê minguar a capacidade de articulação política. O Centrão, sua principal base de sustentação no Congresso, cobra cada vez mais caro por seu apoio, enquanto os militares, que avalizaram esse governo, se desmoralizam.
A CPI do Covid-19 no Senado expõe a macabra política de enfrentamento à pandemia. A extrema direita balança e a oposição avança denunciando a necropolítica de um governo que se sustenta pelo negacionismo.
Movimentos sociais e partidos de esquerda voltam a ocupar as ruas em todo o país, pedindo o impedimento de Bolsonaro. Milhares em diversas capitais protestam e a grande mídia, assustada, pouco fala das manifestações do dia 29 maio.
A direita busca, desesperadamente, um candidato que possa chamar de seu. Ciro Gomes se propõe, sem qualquer escrúpulo, a desempenhar esse papel, mas há muitas desconfianças diante de sua trajetória política.
Lula, com sua postura salvacionista, tenta reeditar uma frente de centro direita para 2022. Porém, já houve quem dissesse que os fatos históricos primeiro ocorrem como tragédia, a segunda como farsa.
De qualquer forma, o jogo político vem sendo jogado como se os problemas da sociedade brasileira se restringissem ao governo Bolsonaro. Com essa visão, as peças desse tabuleiro permanecem sendo movidas pelas velhas oligarquias de modo a manter o povo como plateia na definição de seus próprios destinos.
Assim, a atual polarização política vai se definindo entre a extrema direita e a centro esquerda. Uma polarização em que o capitalismo não é questionado. Trocando em miúdos, a pergunta é se aceitaremos um novo governo da necropolítica que aprofunda as desigualdades sociais levando milhares a morte, ou se teremos um modelo em que minimamente haja distribuição de riquezas sociais.
Seja qual for a alternativa, sem a participação popular como protagonista do processo, a instabilidade política se aprofundará e as incertezas serão a marca do próximo governo.
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