Oportunismo, Doença Senil do Socialismo ?

dez 21, 2020 by

Oportunismo, Doença Senil do Socialismo ?

“OPORTUNISMO”, DOENÇA SENIL DO SOCIALISMO ?

* notas sobre as derrotas e comportamento das “esquerdas” e “democratas”,  frente às “armadilhas neoliberais”,  do Império do Capital , nas últimas décadas e  em nossos dias  ;(…) (*)

[ Esboço,  apenas,  de Introdução , para correção , ouvir críticas, etc.Referências bibliográficas exatas apenas na forma final. Este não é um trabalho acadêmico  ].

                              HUGO BRANDÃO

                                                                      -I-

   

              DERROTAS POLÍTICAS À ESQUERDA

   

          Desde as últimas décadas, vem-se assistindo algumas derrotas à esquerda em diferentes países da Europa e da América Latina . Caso destacado,embora “antigo”,  o da queda da URSS , ao final da década de 1980, e sua repercussão , efeito dominó, na Alemanha, na queda do “Muro de Berlim“, Hungria, Polônia, Iugoslávia, Romênia, etc. Embora, admita-se ,  tenha havido avanços e resistências populares, em alguns lugares, como Cuba(1956), Vietnan(1968) e , bem recente,  na Venezuela(2020) . No caso desta última,  uma resistência firme à pressão imperial,de todos os lados (“guerra híbrida”), com inteligentes alianças(caso da Rússia e China), tema que carece de análises mais acuradas, que não cabem aqui.

             Como explicar-se certas derrotas,  recentes , em alguns países , quando havia crise econômica e política, caos administrativo, aparentes condições objetivas , com ,avanços democráticos significativos à esquerda, atestados até por resultados eleitorais ?

             Note-se , ainda, que houve derrotas , em diferentes países , com  traços comuns, já percebidos ao final do século XIX,  início do século XX,  avaliadas por vultos do peso , à esquerda ,  de Wladimir I. Ulianov(WIU, Lênin) e de Rosa Luxemburgo.

           Mais tarde, com o avanço dos anos e do capitalismo financeiro, tal tema foi analisado  não só pelo citado WIU como por Bukharin,  entre outros. E, logo adiante, por um teórico do nível de Gramsci, que levou  em conta não só  as análises anteriores como as novas modificações em curso  no “metabolismo” capitalista mundial(para usarmos termo de István Mészáros).

-II-

OPORTUNISMO E REVISIONISMO

              Nas análises do teórico italiano, década de 1930-o que mostra de quão longe vem a preocupação com essa questão –   encontram-se   bases para entendimento de  problemas ainda hoje  na ordem do dia , como vimos antes. Embora com novos marcos na práxis e na teoria , sem cuja superação repetem-se erros similares , mutatis mutandis,   sobre os quais achamos importante refletir mais . Há indícios que, ao menos, as razões de  algumas daquelas derrotas eram conhecidas –  e que  fatores específicos teriam influenciado a recorrência delas .

         Certas ações ou omissões, ou despreparo teórico ou político , ignorância , e, inclusive,  traições programáticas e partidárias, oportunismo, revisionismo e reformismo, teriam repetido-se , com influência nos resultados negativos. Isto independente das alterações havidas na sistêmica capitalista e dos tipos de intervenção, direta e indireta, do I.C.(Império do Capital) na sociedade, casos da assistência social , previdência, mudanças no próprio regime político,  “democracia do bem-estar“, direitos trabalhistas ,etc.

        Fatores subjetivos teriam sido bem explorados pelo Império do Capital , focando em indivíduos(líderes, direções partidárias, intelectuais, quadros políticos, militantes), informações, pressões, condicionamentos, esses acabando por jogar papel chave naquelas derrotas. As condições subjetivas deterioradas, por ações bem planejadas pelo I.C., de diferentes tipos,  atuaram para compensar as objetivas, desfavoráveis aos interesses dele.Assim, anulando-se ou atrasando ou perturbando as ações das esquerdas.

         Isso envolvendo mais ardis diversos  e luta ideológica acirrada, direta e indireta , propaganda bem articulada , teriam repercutido em partidos, programas, palavras de ordem, formas de atuação ,  direções partidárias, líderes , teóricos de esquerda , intelectuais.

        Em especial,  nesses, indispensáveis em etapas iniciais dessas lutas, cooptados ou assimilados pelo “academicismo”(cargos, carreiras , prestígio na sociedade – capitalista ) ou integrados a ele,  pouco a pouco . Em outras palavras, envolvidos pela ideologia capitalista, embora nunca  vendo-se ou auto-intitulando-se assim, muito ao contrário(sim, auto-considerando-se “marxistas-leninistas“ e assim sendo vistos pela sociedade em geral, exceto pelos estrategistas do I.C., que induziram-nos, espertamente ,  a essa situação).

          Ora , daí, e deles, é que derivam certas “interpretações do marxismo” que vão repercutir  na práxis – projetos, programas, palavras de ordem, ações.

Afinal, trata-se de intelectuais reconhecidos e  prestigiados à esquerda , autores de livros sobre temas importantes, com análises brilhantes (teses acadêmicas) , (embora não sob os temas que realmente interessam aos que buscam a ruptura e renovação do regime pró-I.C.).

          O“prestígio” deles, a aprovação com louvor de suas teses, etc., que vão condicionar certa práxis política  à esquerda ,  donde vem ? Do “establishment” acadêmico do Império do Capital , isto é, de suas entranhas, de seus estrategistas ,também agentes, responsáveis e sugestiona dores de suas táticas e ações. De fato, não consta que os trabalhos mais importantes de R.L. ou  Trotsky  ou Bukharin ou WIU, entre outros, tenham se originado nas entranhas da inteligência dos países e regimes que pretendiam alterar .

           O envolvimento das esquerdas na luta parlamentar, e sua participação em governos , sob “democracia capitalista”, agravam aquela questão. Tal participação parlamentar era, de fato, defendida por WIU e Luxemburgo , mas apenas  quanto a parlamentos, não governos.

         A(1) participação de esquerdas , via partidos ou individual mesmo ,  por quem assim se considera, sem aspas , em governos capitalistas, de diferentes níveis , por vezes,(2)integrada ou paralela à ambição de militantes, em especial intelectuais, de ascensão acadêmica e prestígio social(adquiridos via longas carreiras acadêmicas ou profissionais), por certo contribui para a cooptação daquelas pelo regime estabelecido. Logo, por via ideológica, depois na práxis(cargos, direções universitárias, postos, títulos,etc.) -daí resultando o que poderíamos também chamar de uma espécie de “transformismo”, para usarmos termo já clássico (Gramsci).

         Se poderia ter havido , hipotética e inicialmente, no caso em foco, uma compreensível posição “tática”, seja de luta cultural , “infiltração no sistema” ou mesmo  de lenta  acumulação de ações à esquerda , entre outras,  o fato é que concretiza-se o contrário – a assimilação  daquelas ações parlamentares ou acadêmicas ou profissionais pelo sistema e regime vigentes(capitalistas).

         Em resumo , um trabalho cômodo , confortável , de lento revisionismo teórico , luta ideológica tênue  , formação de quadros adaptados aos limites do sistema .  Um trabalho mais no sentido de manutenção do capitalismo do que rompimento com ele. Até porque  a teoria marxista tradicional enfatiza o papel dos intelectuais e da “fagulha”, i.e., de uma ação de fora do “sindicalismo” tradicional , o que dependeria de partido , intelectuais, ação, envolvimento.

          Todo trabalho e ações dentro dos limites legais e ideológicos e políticos permitidos pelo regime em curso, nos termos descritos, em geral , fortalecem-no e  legitimam-no. Não  contribuem direto para seu rompimento, apenas criando ilusões políticas (por vezes interrompidas com golpes militares ou , atualmente, recursos mais sutis ,  “guerras híbridas” , por exemplo, ou “golpes jurídicos”, caso tentado na própria eleição de Biden, EUA), que vão agir em sentido oposto , desacreditando rupturas radicais e estruturais  .O que só poderia ser promovido por algum tipo de ação “especial” vinda de “fora”, com propostas e ações  capazes de romperem tal “esquema elástico”, de fachada democrática enganadora , formal(mas , não material) .

         Em outros termos, trata-se de regime capaz de não só manter fachada democrática como admitir críticas e debates, oposições,  dentro de certos limites. Hoje,  usa até recursos de especial estado de exceção informal, implícito(Agamben, “Estado de Exceção”), manobrando via interpretações jurídicas e outras( o que, nos EUA, , p.e., permitiu aos EUA  fazer a guerra que esmagou o Iraque e manter o centro torturador de Guantânamo, fora da lei). Ora, só ações de fora do sistema serão capazes de mudá-lo em seu âmago , seja  por meio de partidos articulados ou movimentos, que possam atuar no sistema, mas não serem condicionados por ele quanto a seus objetivos fundamentais, entre eles o de atuar no sentido de uma ruptura qualitativa.

          Isto vai ocorrer exato porque tal “conjuntura”, fechada em si mesma, historicamente,  foi também bem estudada , planejada , articulada, pelos estrategistas do grande capital , daí testada mostrando-se, por décadas , e  internacionalmente, favorável a seus interesses .

          Tratam-se de aspectos que se integram na questão da “legalidade” das esquerdas sob “democracia capitalista”. Um “jogo de xadrez”, prevendo-se lances futuros e seus resultados , envolvendo o tempo ,  em que se indagaria – o que beneficiaria quem ou quem lucraria mais com “legalidade” e democracia “formal” ?

          O I.C. ou seus opositores ? (Isto quando existe democracia, ainda que formal , pois volta e meia ela é  desrespeitada sob a égide do I.C.  – não só por golpes violentos, etc. como pela “técnica de governança” de “estados de exceção implícitos”, apenas, formalmente,  “estados de direito”, como antes  referido.

            A História tem mostrado que essa situação descrita tem gerado mais benefícios à solidificação do sistema capitalista- do que à sua ruptura .Tal “democracia”, com poucas e bem medidas concessões à “esquerda” , reformas que não atingem o âmago do sistema , tem-se mostrado mais favorável à manutenção do  “establishment” do que aos interesses dos que pretendem modificá-lo.

-III-

DE LUXEMBURGO A GRAMSCI

 

           Não há como ignorar o peso  negativo de determinações sectárias partidárias , à esquerda , em todo esse processo , desde a época de Gramsci, décadas atrás .Elas repercutem até hoje, então oriundas do stalinismo , prevalecente na URSS , década de 1930 . Foram diretrizes que atingiram , de várias maneiras ,  não só o próprio Gramsci , como sua produção teórica. Provável, não fossem elas, os avanços teóricos gramscistas tivessem sido ainda mais fecundos e mais divulgadas suas teses  – além de antes propagadas, o que teria sido  importante para o avanço do socialismo a nível mundial .

          O mestre italiano, encarcerado , sofreu  isolamento,  perseguições políticas , dentro e fora do cárcere, à direita e à esquerda, além de permanentes dores pelas enfermidades que sofria. Isso repercutiu, fortemente, no decorrer do tempo, nas lutas desenvolvidas , práxis, além de na teoria marxista.

           Importante lição , para nossos dias ,  que, naquele contexto, Gramsci, dirigente do PCI, homem de partido, tenha sofrido restrições partidárias , face à  então forma de organização dele – nada menos que o famoso “centralismo democrático” clássico – leninista .

          Este , provável, teria sido fator de ratificação de erros políticos à esquerda,  em curso, mundialmente. (Face ao peso das ações e programa do PCUS e da Internacional Comunista, dentro e fora da então URSS). Ou seja, empecilho a melhor e rápido entendimento das mudanças no sistema capitalista(“americanismo”, “fordismo”), já anotadas por Gramsci(AG) .Esta barreira , blindagem em vista do então prestígio mundial dos revolucionários russos, tornou-se fonte de  estratificação teórica , e também da práxis,  do próprio marxismo – ações e programas . Em suma, de retrocessos teóricos, ideológicos e políticos .

         Esse contexto, ao menos, uma das razões da inovadora, e polêmica,  proposta de Gramsci sobre a  organização do partido revolucionário   – no sentido de menos  “centralismo” e mais  “movimento” .Ou seja, abertura para a entrada de novos quadros partidários e renovação das direções.

        Ora, tal não poderia ser do agrado dos então dirigentes, o que explicaria os ataques sofridos por Gramsci, até na prisão – sua discriminação , durante longo  tempo, o que significa a de  sua contribuição teórica .

          Nesse diapasão, entende-se, mesmo em pleno 2020 , cem anos depois, nada simpático a direções e líderes de esquerda , o tratamento  desse tema –  se oportunistas . Porque ele envolve, direto , as direções partidárias e sua responsabilidade por fracassos políticos  –  tratar-se-iam tais dirigentes  de “intelectuais”, ao menos em boa parte. E estes ,  por vezes, no passado como no presente,  mais interessados em prestígio político pessoal , liderança , carreiras, parlamentares , acadêmicas ou profissionais ou até literárias, do que em arriscadas tentativas de rupturas políticas , contra governos regimes, sistema ?

          Em nossos dias, em seus domínios , o Império do Capital ampliou  seus recursos repressivos , tanto no sentido de informações como outros meios de defender seus interesses – aperfeiçoamento do uso da corrupção, chantagens, drones assassinos,  torturas e assassinatos, para não lembrarmos as bombas atômicas já usadas em 1945, sem necessidade , a guerra ganha.(Hioroshima e Nagasaki).

        Rebeliões e insurreições colocam em jogo a vida pessoal, familiar e outras conquistas profissionais dos  envolvidos , líderes partidários , intelectuais ou militantes. Além daquela , por vezes , de milhões de apoiadores oriundos do seio do povo.(Veja-se o caso das Filipinas e o massacre de mais de um milhão de militantes legais , na Indonésia, 1965, ambos sob patrocínio do Império Americano.  Perspectiva bem mais  agradável, pois, a de  supor-se que mudanças graduais , legais e efetivas , possam substituir qualquer tipo de luta coletiva  mais violenta . Só que na práxis , em geral , tal luta legalista termina ou em golpes (de vários tipos, hoje, mais modernos, não só militares) ou em corrupção e alianças esdrúxulas , a certa altura desmoralizadoras, que implicam em retrocessos à direita e mais retardamento quanto a mudanças estruturais.

           Nos dias atuais, a situação tornou-se  mais complexa ainda   –  há ameaças, prévias , de todo tipo, contra os “radicais” , ou “extremistas”,  que possam ou anunciam buscar ultrapassar os“limites” do sistema  – e nem se fale naqueles enveredam , desde logo, por atuação além da legalidade concedida – são vítimas de seqüestros, assassinatos, provocações. A legalidade e a clandestinidade dos serviços secretos, policiais e de informação, facilitam essas ações.

         Em períodos menos conturbados , sem revoltas ou manifestações violentas, podem ocorrer,  com intelectuais militantes ou dirigentes partidários, com paralelas atividades profissionais ou acadêmicas , desde a perda de cargos e condições de trabalho  (de professor, bolsas de pesquisa, corte parcial de aulas,  etc.) a pressões diretas ou psicológicas. Em outros termos, abaixo-assinados , intimações para depoimentos , prisões , agressões, conforme a conjuntura e país . Normalmente, não se chega a tanto, pressões menos diretas e advertências bastam para colocar a maioria dos visados dentro de limites adequados, segundo  interesses do Império .

-IV-

LUTAS NAS ENTRANHAS DO SISTEMA

 

            As alternativas descritas têm aparecido, em vários países, conforme a conjuntura e nível de tensão e confronto entre classes, oposições e governantes(“neoliberais” ou outros ) , por vezes o processo avançando rumo a autoritarismos .

             Aqueles procedimentos  , embora a maioria ilegais,  vêm sendo, aos poucos, legitimados pelo IC e seus agentes . Quase sempre há a  participação da big mídia, por ele dirigida ou dele dependente (em razão de financiamentos ou propaganda  ), por meio de diferentes manipulações, divulgações, reportagens parciais , capazes de intimidarem os alvos .

         Temos, pois, tanto  “interpretações jurídicas”, arquivamento de processos e investigações , adiamentos destas (engavetamentos ), a Justiça num papel fundamental( o “estado de exceção“, de Agamben , em atuação ), como , ao contrário, “desaparecimento” de notícias já divulgadas , por não haver “direito de antena”.(Que existe em Portugal, não no Brasil . Por ele, é preciso haver acompanhamento da notícia publicada,  dos fatos narrados ou comentados  até a finalização do caso ,  no tempo).

            Mas, há outros recursos que permitem o avanço daquele processo, consentido pela sociedade, que mal o percebe. Um deles, por exemplo, a exibição de filmes   com a  promoção de  “heróicos” agentes da CIA  ,belas mulheres e homens bem apessoados , que,  em luta pelo “bem”( interesses do Império Americano), agridem, torturam ou matam , fria e covardemente  inimigos “esquerdistas” , feios e desprezíveis ( “vermelhos”ou  “comunistas”, já derrotados ou presos) ,   sem necessidade . Isto ,  ao arrepio da legislação  local ou internacional.

           A mídia cinematográfica e televisiva (o centro em Hollywood , décadas atrás ) , agora atua via internet , por redes sociais , financiadas ,travando luta ideológica mascarada por tramas políticas ou sociais , sempre  de forma a legitimar violência e torturas ilegais ,  antidemocráticas , que o IC vem utilizando , de longa data , contra seus opositores. Em particular,  contra uma  militância organizada, à  esquerda, partidária, seja na América Central, do Sul ou no Oriente Médio e Ásia .

            A propaganda , formalmente de alto nível ,  dissimula fatos, distorce histórias, justifica absurdas violências . Existem centenas de filmes ou seriados.

          Tal vem ocorrendo , há tempos , tanto via ações contra indivíduos (sequestros, assassinatos, etc.), como frente a grupos, partidos, células( até via drones, foguetes, bombas , etc., no Oriente Médio ) .

          Seja por  meio de ações restritas mais individualizadas (contra líderes, financiadores ) ou via  tradicionais  golpes militares, invasões armadas, revoltas promovidas por mercenários , operações especiais via aviação e foguetes , com desrespeito a fronteiras e soberanias nacionais. Ou seja , leis e constituições.

-V-

 

OS EUA E A DEMOCRACIA DE TOCQUEVILLE

           Para tal tipo de ação pelos seus interesses, o Império tem usado quaisquer meios , sem  escrúpulos éticos ou morais, e sem medo de condenações jurídicas nacionais ou internacionais – age a seu bel prazer, quer dizer , de acordo com seus interesses, sejam por petróleo ou minerais diversos ou mercados .

            Para isto , assassinatos, sequestros, torturas, uso de napalm , foguetes ou  drones, estes hoje muito usados para assassinar  tanto líderes como  suas famílias e amigos  (o que fez Obama, ex-presidente dos EUA, “democrata”,  “moderado” . ( Mais de 2 mil drones mortíferos ordenados , sem  respeito à ONU ou qualquer legislação . Moniz Bandeira , “A desordem mundial“).

           Nesse sentido, amoral,  bélico, destruidor,  a ação do complexo-industrial dirigente (Eisenhower e outros) , no exterior,  não destoa da desenvolvida dentro do próprio território americano , de forma mais disfarçada e encoberta .( muita propaganda e desinformação ).

          Basta   recordar-se os assassinatos de Luther King, John e Robert Kennedy e Malcolm X, p.e. Mais recente, a repressão a manifestações anti-racistas, além das posições do presidente Trump. Este a respaldar  ações radicais repressivas  e anti-igualitárias, contra o povo nas ruas. Além de , após derrotado , acusar o sistema eleitoral americano de fraudado  em larga escala . (Isto,  mesmo em dezembro de 2020, bem depois da vitória de Biden sobre ele  , quando aguardava  a posse do outro).

         De fato, neste aspecto , quanto a abuso de poder em eleições americanas , essas afirmações não aparecem isoladas. O famoso ex-presidente Jimmy Carter , democrata , anos antes, também já denunciara essas  distorções e abusos do poder financeiro nas eleições dos EUA. E Carter pouco tinha de Trump , quanto a temperamento , caráter ou práxis política.

           Há a destacar  a omissão , “comodismo“ ou fraca reação das esquerdas e “esquerdas“ e democratas (adiante discutiremos tal distinção) , no Brasil , e em todo o mundo , em relação a violentas repressões, manifestações de racismo ,fraudes eleitorais, etc. Em outras palavras, fraqueza ou ausência de maiores protestos, luta ideológica , ocupação de  ruas e prédios , formação  de novos quadros e movimentos populares,etc Note-se que isto vale até em relação aos movimentos populares americanos,  supondo-se que deveriam serem muito maiores e mais radicais em países atrasados e , tradicionalmente, explorados pelo Império .

-VI-

 

OPORTUNISMO  À ESQUERDA?

          Esse comportamento “acomodado” dos partidos à esquerda , de décadas para cá, acentuado nos últimos anos, fica mais patente ainda quanto ao que  vem sendo organizado pelas “direitas”, como comprovaram e analisaram  Casimiro, no Brasil,  e Empoli, na Europa , entre outros .  A  big mídia ocidental aproveita a situação para manipular os discursos, chamando de esquerda neoliberais , alinhados com o neoliberalismo imperial.

           Como entender essa situação ?

           Observa-se um conjunto de ações prévias, preliminares a outras , tomadas pelo IC e seus agentes, através,  em especial, de seus exércitos invisíveis . ( Estes envolvendo serviços secretos e de informação , protegidos pela legislação do Império, além daquela de  seus países satélites, infiltrados e atuando em toda parte . Invisíveis, em particular , dentro das oposições – e , em alguns países, acabando até por dirigi-las).(Cf. “Por dentro da CIA“, de P.Agee, que detalha o caso do Equador, onde trabalhou ).

           Há ,  não  justificativas, mas  várias explicações , por parte das esquerdas, sem aspas ,  para aquela apatia , “oportunismo”,  ou “comodismo” , em “democracias capitalistas”, ou ocidentais, em especial nas mais ou menos assentadas , ao  menos quanto se olha  para   décadas atrás, um caso como o do Brasil .

           Alega-se , nessas democracias  –  (1)estar  assegurada a “legalidade das esquerdas“(legalidade de partidos autointitulados  “comunistas” ,  e outros, “socialistas”, ou “esquerdistas”, mas não marxistas-leninistas , diversos deles pensando-se e sendo  vistos pelo povo como “revolucionários”) ; (2) estar garantida  , formalmente,  a possibilidade constitucional de, através de eleições, sufrágio universal, garantias de direitos ,  poderem serem realizadas  mudanças estruturais, no regime político e no sistema econômico .

             Em outras palavras , ser possível um  “evolucionismo”político e econômico  que implicaria naquelas mudanças,  sem necessidade da uso da força/violência , mas apenas através de uma maioria eleitoralmente conquistada . Seria assegurada, assim,  a possibilidade de “ruptura” no regime , além de grande rotatividade interna de cargos,  se a maioria da sociedade o desejasse . Tudo sempre  por “via legal” , constitucional ,  eleições, sufrágio universal . Garantias formais, evidente, mas não materiais. Muitos desses processos foram interrompidos por golpes militares,com o apoio do Império, quando começavam a afirmarem-se possibilidades de  efetivas mudanças estruturais.

             Apesar disso, a questão eleitoral  foi um aceno democrático das classes dirigentes do Estado  – uma  conquista de décadas por parte das classes populares,  que padeciam e padecem  do poder. Por isto, ela tem sido colocada, constantemente ,  na agenda  das esquerdas ,  assim como outras dela derivadas . Caso de por que raro tal teria ocorrido,  e como se daria, já que muitas vezes o processo , quando no ponto de rupturas importantes, costuma ser descumprido justo por aquelas forças legais que deveriam garanti-lo.(forças militares , policiais, etc.).

            Então,de  um lado, a indagação sobre se aquela perspectiva evolucionista seria realmente possível ( Bernstein , “Socialismo Evolucionário”), na práxis . De outro, se não , se ela não poderia, ao menos,  constituir-se em  alternativa tática,  política, à esquerda,  no sentido de contribuir para acumulação gradativa de forças e politização de massas sindicalistas, ou não . Estas,  entre outras, em princípio ,  não dispostas  a ações radicais   violentas, ainda que seja para garantir direitos de longa data  legalmente perseguidos e finalmente adquiridos .Em resumo , para parte das esquerdas,  tratar-se-ia de  apoiar tais lutas “democráticas”, sim, mas numa perspectiva tática  . Desde que consciente que os que exercem o poder , de fato, jamais permitem, ao final de muitas disputas ,  mudanças estruturais de forma democrática, rompendo, sempre , e  previamente ,  com a ordem legal existente . Isto é, logo antes que tais rupturas se concretizem .

            Tal vai ocorrer depois de todo tipo de recursos, ardis, desinformação, contra-informação , golpes jurídicos, militares e outros, inclusive admitindo-se diretas pressões externas (caso recente da Venezuela) .Ou via  até intervenções militares externas diretas, com tropas , de forma a impedir  mudanças estruturais pretendidas por forças políticas, em geral populares, divergentes dos rumos daqueles no poder .

            Para algumas correntes políticas à esquerda, a citada democracia  capitalista ,  embora limitada , seria passo  adiante . Isto é , dever-se-ia  aproveitar-se dessas “concessões” democráticas, ganhas através de eleições, conciliações, etc. , pouco a pouco conquistadas em lutas políticas  prolongadas ,  para melhor organizar partidos e movimentos e  “politizar-se” as massas – com  menos risco de repressão e retrocesso  do que na clandestinidade ., pois através de um processo histórico gradual e legal.

           Se esta seria uma tática gradualmente aplicada pelas  esquerdas , a questão é que , de outro lado, os agentes do IC sempre souberam exato disso . E agiram para impedi-lo,  por todos os meios, antes que se consolidassem condições de mudança.  Ao mesmo tempo, parecem ou fingem sempre admiti-las, inclusive alardeando-as e até propondo-as , após períodos autoritários impostos por regimes pró Império , em países títeres ou satélites dele.

            Por quê ?

-VII-

 

A QUEM FAVORECE A “DEMOCRACIA CAPITALISTA”?

            Até pelo nome, em princípio,  ao Império do Capital . De certo modo ,  ao considerar-se  , pesados os pontos negativos e positivos, daquela situação antes descrita,  de “luta democrática e legal”permanente , ela seria melhor para os  interesses do grande capital e dos regimes nele apoiados .Quer dizer, há um jogo de poder aparente flexível , mas de “cartas marcadas”,  sempre com  alguma tensão , mas bem  melhor para o grande capital  do que a só  aparente estabilidade social permanente  garantida por medo,  repressão , violência . Que são prejudiciais aos negócios,  trocas , ao funcionamento do  mercado , em suma.

                Do lado das esquerdas e democratas radicais, cada vez mais raros, nesse caso ,  tratar-se-ia de enfrentar uma situação de ação clandestina permanente , sem garantias legais, elas a serem permanente reprimidas , na maioria das vezes com violência desmedida .Em compensação, estando fora do controle quase total daqueles que consideram inimigos.

                 Do lado dos que exercem o  poder , trata-se de uma aparência democrática ,formal, mas com material negativa de concessões democráticas reais, com controle do poder  , e muito menos no sentido de permitir mais do que a administração parcial do estado , nos limites impostos via Constituição e leis, estas garantindo os interesses dominantes. Não há demonstração pública  da negativa permanente quanto a diversas  concessões democráticas, como a busca da igualdade real e não formal e da garantia dos direitos humanos. Mas, na práxis , elas são negadas e, se chegarem perto de serem conquistas, deverão serem  abortadas pela violência. Inúmeros fatos ao longo da História, em especial na América do Sul  e Central, inclusive no Brasil, mostram tal constância,só recente alterada por novos métodos de atuação do Império, caso da manipulação dos mercados , das guerras híbridas, do recurso ao estado de exceção informal, entre outros. O que não exclui posterior intervenção militar violenta , para consolidar o regime pretendido.

           De qualquer modo, quando equilibra-se a luta democrática , havendo risco de reais mudanças estruturais, os   métodos usados pela  repressão avançam  além dos limites dos direitos humanos, acobertados pela Justiça , religiões e big mídia -torturas, sequestros, etc. são usados para obterem-se rápidos resultados . Estes, mesmo que mascarados e escondidos ao máximo ,  por sua vez ,  acabam sendo vistos pelo público,  em geral, de alguma forma, como a  História também tem demonstrado e documentado. Que lições retirar de tais experiências , de legalidade ,  já bem documentadas pela história, como visto ?

                                              -VIII-

                            ESQUERDAS REPETEM ERROS.POR QUÊ?

             Em geral, nesse “contexto democrático” aparente, superficial ,  assiste-se  derrotas à esquerda ou exato do lado democrático. Porque há apenas uma  garantia  superficial e formal da “democracia ocidental” e da própria  legalidade : (a) esta legalidade vai permitir  uma permanente infiltração do “exército invisível”(serviços secretos),  dos regimes no poder , no coração das esquerdas, daí conhecendo seus truques, objetivos, táticas , e, assim,  podendo desmontá-las e destruí-las , quando considerarem adequado ( fora ações realizadas , todo o tempo ,  por “dentro” das oposições , através de atos internos sabotadores , de todo tipo, contra líderes honrados, usando difamação, mentiras, divisionismo, prejudicando reuniões, etc.  ) ;  (b) a legalidade permite ainda  uma ação direta, pública ou semi-pública, ,   por parte dos que exercem o poder , contra as oposições legais , seus partidos e lideranças , face aos dados  que detém via serviços de informação (podem reprimir e antecipar-se ,usando sua Justiça e Polícia, conforme seus interesses ). Nessa situação , qualquer ação mínima  fora dos limites , por parte de opositores, pode ser facilmente coibida , ela até tornando-se  desastrosa , temerária,ou mesmo provocadora, conforme o caso . Há condições privilegiadas, do lado dos que exercem o poder, em relação a seus opositores, alguns pseudo-revolucionários, arrotando, publicamente, em reuniões, bares, salões, suas táticas e estratégias. Mas,  na práxis, sempre  nas mãos exato  daqueles que pretendem combater.  Pois , legalmente, aqueles conseguirão manipular as próprias oposições à esquerda  ,  não só por elas estarem comprometidas em atuarem publicamente, como pelas informações que detém , via serviços secretos. Sobre a forma de atuação deles, cf. P.Aggee, “Por dentro da CIA”e Lucas Figueiredo, “O  Ministério do Silêncio”, o último exato sobre o que se passou no Brasil).;

                 Nessas condições, na  hora do “frigir dos ovos”,i.e.,  manifestações , lutas , greves gerais , as direitas e suas autoridades no poder , graças a deterem aquelas informações, e estarem  infiltradas nas lideranças e direções partidárias legais opositoras , dificilmente serão derrotadas . A par das informações que detém, fundamentais em qualquer luta , e de suas próprias forças arregimentadas em instituições como a Millitar e a Policial , ainda por cima, no Ocidente, contarão com apoio estrangeiro , via Império. (Esse, por vezes, anulado,  em casos raros ,  como o recente da Venezuela e o de Cuba, alguns anos atrás.

             O IC  , via seus prepostos , ação  legal, apoiada na legislação em vigor,  se proíbe, por óbvio, qualquer ação fora da legalidade – ainda detém a violência legal, o aparelho repressivo , as polícias, os principais meios de comunicação , etc. E ainda tem outro poder, bem específico de pouco discutido –  via serviços secretos legais , protegidos  -invisíveis, sem qualquer controle, por parte da oposição , mas servindo sempre  ao Império. A seus governos, ao “Estado”, ao Império .

        Qual lado leva maior vantagem nessa situação de legalidade –  o do Império ou o das oposições, em especial à esquerda  ?

             A esquerda tem espaço para organizar, discursar , propor , programar – em certos limites. Liberalismo .  Não pode propor revolução violenta, nada contra as disposições constitucionais, ou manter discurso revolucionário ou narrativa de tal tipo . Tem seus militantes cadastrados, endereços, algumas verbas para atuar . Está aberta às infiltrações dos serviços secretos. Não tem qualquer real controle do poder, fora quando isso for-lhe permitido , face à sua inoperância substantiva e controle interno(informações) e externo , aparelho judiciário e repressivo. Caso do Brasil 2020 , com Bolsonaro e extrema direita no Executivo e algumas prefeituras e até governo estadual sob direção do PC do B, autointitulado “comunista” e revolucionário  .  .

              Os que exercem o poder dispõem de todo o aparato normativo e repressivo mais aquele aparato invisível que ninguém discute , o mais antidemocrático de todos – os serviços secretos e de informação. De fato, se democracia é transparência , igualdade ainda que formal, onde está a igualdade nessa situação ? Não se discute, ninguém discute  a existência de um exército invisível, profissional, secreto, bem remunerado, com verbas secretas à disposição,  com imunidade concedida pelo Estado , ligado ou dependente do IC – serviços secretos.

            Em outras palavras, se ,  à esquerda , pensar-se-ia em “usar” a “democracia” e “legalidade” em vista da  possibilidade de “ruptura” ou revolução mais adiante, acumulando-se forças aos poucos , tal resultado não seria nada fácil .  Face às “infiltrações” e traidores políticos infiltrados nas esquerdas , a direita no poder já possui trava prévia para qualquer caminhada política dos adversários – realmente, à esquerda.

           As esquerdas sonhariam – e cansariam  de esperar , esperança , o tempo passando – em avançar o processo político e chegar à  ruptura do regime vigente , dentro da legalidade , via “reformismo”, sem crises maiores, lutas sangrentas ou mortes . Mas, teriam  que enfrentar a situação anterior descrita, serviços secretos cada vez mais aperfeiçoados e com tecnologia sempre mais avançada – por exemplo , capaz de permitir ouvir conversas ou filmar os alvos , ainda que muito longe deles.

         Hipoteticamente,  essas esquerdas visariam , (1) senão via tranquila mudança , de qualquer modo, bem intencionadas e ingênuas,  uma revolução , ruptura mesmo ,  e não apenas evolução (2) Ou  usar aquelas “democracias ocidentais”, capitalistas, para acumularem forças e provocarem rupturas revolucionárias. As direitas, no poder, o  exato  oposto – impedir mudanças,  não do interesse do IC e , mais ainda, qualquer ruptura que pretendesse atacá-lo ou destruí-lo ou mesmo enfraquecê-lo.

          Parece óbvio que tal situação hipotética descrita , “modelo “ tosco, só poderia levar , como tem levado , a sucessivas derrotas à esquerda.

-IX-

 

DE VOLTA AO PASSADO ?

 

          Volta-se , assim, de qualquer modo ,  mais de século depois ,  à discussão do revisionismo, do qual , no passado , Kautsky foi o principal arauto . Ou , ao menos, volta-se a  girar,  politicamente, sempre , em torno daquele  eixo – como chegar-se ao socialismo ou ao menos avançar-se nesse sentido , nas sociedades ocidentais, sob a égide do IC.

           Perde-se muito tempo e  energias  confundindo-se as análises , tropeçando-se nessas questões , desinformando-se , ao invés de informar-se e tentar alterar rumos. Mas, há razões específicas que empurram estudiosos nesse sentido  – sejam oriundas de meios acadêmicos ou partidários. Menos mal que , ao menos, aqueles dedicados a essas questões, estão atacando problemas principais e não secundários , como é usual sob as sociedades capitalistas . Há uma indução a esquecer classes , lutas, mudanças, rupturas e discutir-se gênero, raça, sexo – temas que afetam cada um em sociedades repressoras e desiguais .

            Mas,  deixa-se, ao não haver clareza sobre tais questões principais , e não as secundárias, ,  milhares de militantes e pessoas honestas , de todo tipo,  nas mãos das “direitas” , desde que catalogadas, cadastradas , endereços certos, submetidas às regras de oposições legais , submetidas aos ditames de Estado ligado ao IC – e sob vigilância dos exércitos secretos invisíveis. Muitas esquerdas não caminham no sentido do socialismo , mas servem , com seus métodos de ação e recrutamento , ao inimigo que declaram e algumas talvez mesmo pensem combater.

-X-

COMO SUPERAR OBSTÁCULOS ?

 

           Como mudar algo ou romper com regimes democráticos  desvirtuados , nessas condições descritas  ? Note-se ainda que  , além de tudo referido ,  as constituições costumam prescrever “cláusulas pétreas”, que blindam  , na práxis , mudanças estruturais.

        O IC , as “direitas” mundiais, tem pleno e ótimo  conhecimento de tudo antes  referido , décadas decorridas de lutas ,  dispondo de eficientes agentes de informação e execução, além da permanente possibilidade de infiltração nas esquerdas , face à legalidade . Agem, pois,  sempre,   sob falsas justificativas , para reprimirem , quando e se interessar . Em geral , infiltram, acompanham , filmam, gravam  as ações de seus opositores – só agindo quando interessa. : desmontam, punem, matam , em  ações ilegais  das esquerdas, . Em geral, ainda por cima, estas vítimas de  provocações policiais .

         O “bloco dominante de poder”, quando se agrava uma crise, logo  se une à direita mais agressiva . Pode tornar-se neofascista . Informado, decide e antecipa-se , quanto às ações políticas, abortando , previamente , quaisquer  movimentos perigosos , seja  pela força da Lei ou  violência mesmo , sem escrúpulos . Não permite, seja lá por que meio for, que tenha que usar, o avanço de  processos de ruptura , legais ou não  – não aceita mudanças, sequer leis , que prejudiquem direto  seus interesses , com  ruptura ou alteração do regime vigente . Se a corrupção coletiva ou individual, evidente ou nos bastidores, não for  suficiente para a defesa de seus interesses, a repressão ou violência, a qualquer nível, poderá ser usada.

         Não tem  o IC  muito o que temer dos inimigos à “esquerda”, em nossos dias, porque  infiltrado nas entranhas do inimigo de classe, seus partidos e movimentos, face à legalidade. Sabe que eles, por terem cumprido todos os  ditames da legislação em vigor, se ainda tem  alguma  organização política,  não tem  projeto militar , nem motivação para tal – estão organizados para a luta legal, democrática.  Estão submetidos à legalidade, até na sua propaganda, discurso, retórica . Não podem avançar  no sentido de preparação para o enfrentamento , sequer em  qualquer  preparo nesse sentido – entrariam , logo , na ilegalidade , sendo punidos.  Só podem avançar na direção oposta , a de ganho de simpatia política , o mais ampla possível, capaz de traduzir-se em votos, em futuras eleições .

-XI-

 

A “DEMOCRACIA CAPITALISTA”, ÓBVIO, FAVORECE O IC

               Mais do que visto que,  nesse tipo de conjuntura e organização social , o IC ,  informado sobre o adversário, condição indispensável para a vitória em qualquer guerra ou revolução , apenas escolhe quando intervir e abortar  – e a maneira como o fará .

              A democracia capitalista, a não ser que realmente mais democrática que hoje , com controle de poder real  pelo povo, ainda que parcial ,  só serve, em essência ,  aos que a manipulam – trata-se de plutocracia, governo dos ricos. Pode ser um caminho à esquerda , mas se sofrer reformas inteligentes de interesse popular, feita por partidos de outro tipo , organização , militantes de diferente visão. Preliminarmente, conscientes de problemas como os aqui colocados.

          Do   lado dos opositores ao IC , desconhece-se não só  os exércitos invisíveis secretos , como conhece-se apenas  forças militares e policiais  formalmente visíveis , pautadas na  legislação publicada oficialmente. (Não , na secreta, também existente). Forças que, ainda assim, são mais que suficientes para manter a ordem de interesse do grande capital – do IC).

          Dessa posição mais que privilegiada , o IC  sempre intervirá, quando e se convier-lhe ,   rompendo , quantas vezes necessário , com  as constituições, a legalidade , ética, compromissos  – se preciso. Não precisando , atuará , previamente, face aos recursos de que dispõe e do seu tipo de governança atual – o estado de exceção implícito e informal.

           Usará , nesse sentido,  golpes , ardis , violência e autoritarismo , sem quaisquer escrúpulos ou “legalismo”.Afinal, o IC detém o aparelho judiciário e a capacidade de interpretar as leis . Sabe que o adversário, neste esquema fechado , sistema jurídico-político delimitado em que decidiu inserir-se ,  não tem condições efetivas para  enfrentá-lo  . Como trunfo, ainda , se necessário,  poderá contar com a  intervenção externa de algum dos  estados componentes do IC , caso verifique estar em eventual desvantagem frente aos  inimigos internos , como antes lembramos.

           Usarão  o IC e aliados , internos e externos (e a História tem mostrado isso) , intervenção  ilegal interna ou externa , “abortos políticos”,   ações fora e dentro dos limites do regime,   até que superada sua eventual desvantagem popular –eleitoral,  quanto às oposições radicais (que pretendem rupturas) .( Exemplos – golpes militares-policiais estrangeiros no Brasil, Chile, Argentina, Uruguai , etc. , década de 1960/ 1970 ).   Só retrocederão (até porque a crise permanente não é benéfica “aos negócios” e ao “mercado”) quando a situação for “normalizada” a seu favor – e conquistada a hegemonia ideológica e política necessária,  ainda que seja via intimidação , eliminação de inimigos em maior ou menor escala , etc.

            Caso surpreendido  por resistência inesperada , por vezes apoiada em alianças de opositores com outros países , o IC/aliados poderão recuar  –  recuar   ou ir  à guerra mais direta e intensa , conforme a situação e interesses em jogo, evitando quaisquer derrotas. Recuou , em 2019, p.,e, quando do enfrentamento com a Venezuela, mas,  porque esta , popularmente bem organizada , estava ainda  escorada por alianças com Rússia e China.

-XII-

MUITAS RAZÕES PARA DERROTAS

                Portanto , nítidas as razões das derrotas à esquerda  – ação bem programada e executada , prévia, por parte do IC; manipulação indireta das esquerdas , via lideranças cooptadas ou corrompidas  ou partidos muito infiltrados pelas policiais  ; visão tática errada apoiada em interpretação equivocada do marxismo; “transformismo” , alcançando e anulando a ação de dirigentes e intelectuais, que não desempenham os papéis que eram necessários  ; organização partidária pública e errada ; não capacidade de avaliação da conjuntura e atuação rápida no momento certo ; revisionismo de pontos fundamentais da  teoria marxista tradicional quanto à forma de atuação ;  etc.

            Há , pois, razoáveis explicações, a serem melhor detalhadas e estudadas , para explicar a inércia ou retardamento das ações das esquerdas , nas democracias ditas capitalistas ,  algumas originadas  no  interior de seus partidos e na forma deles e suas direções (intelectuais) atuarem e interpretarem  os clássicos marxistas.

           Do mesmo modo que variam as interpretações da Bíblia , entre pastores de diferentes igrejas , divergem as das  lideranças de diferentes partidos , à esquerda , quanto ao“Capital” e outras obras “marxistas-leninistas”.

         Trata-se, como visto ,  de problemas que vem de longe – mais de século . Enfrentados pelo IC com perspectiva  moderna, as esquerdas esbarrando em dogmas e problemas do passado – e sem tirar as lições daquele passado .

            Entendimentos teóricos desvirtuados (?!), sobre  questões cruciais , algumas antes citadas  ;  programas e ações inadequadas desenvolvidas  pelas esquerdas ; tipo de organização partidária discutível e direções pouco preparadas,  teoricamente ; ações de partidos , que pensam-se revolucionários , embora , em geral, não o  sejam ,(sendo , quase todos , na práxis , “socialistas evolucionários”, se tanto ) –  servem de explicações preliminares , não de justificativas  para  inércias , adiamentos , contemporizações, conciliações – e derrotas acachapantes, à esquerda  .

XIII-

 

VELHAS QUESTÕES, PARA REFLEXÃO

           Apenas especificando-se algumas , e enfatizando-se  – (1)  a antiquíssima questão do “desmoronamento” do capitalismo , isto é , se  bastaria apenas ser aguardado ou deveria ser provocado ,  em hora propícia, a ser avaliada, aí tendo papel importante os intelectuais;  (2)  a  clássica posição leninista sobre o momento exato  em que poderia haver /ser provocada a “ruptura” do regime vigente , quando e como ela se daria (questão bem debatida , mas dubiamente  interpretada e distorcida,  há décadas ) .

            As respostas  dependeriam de condições  objetivas , crise econômica e política ,  prévias conquistas ideológicas  ? Sim, mas também da existência de força política organizada, planejamento, quadros , etc.  Em suma, de “amadurecimento” econômico, social e  político  propícios , capazes de levarem a mudanças qualitativas – e um preparo, planejamento ,  anterior e bem concatenado. Fatores objetivos e subjetivos, capazes de serem corretamente identificados e cotejados, além de outros, como análises das respectivas forças , situação , etc.

            A forma de participação ou não (3) das esquerdas nas “eleições burguesas”, como meio de acumulação de forças e politização do povo(Lênin) . ( Justificativa teórica , encontrada em “O que fazer “ e outros estudos ). Como se daria tal participação, em que limites, em que níveis ? Em determinado contexto,  e além de certos limites, ela poderia levar a resultados opostos aos pretendidos, inclusive corrupção e revisionismo ( Segundo R. Luxemburgo).

            Além e a  partir dessas questões  ,  há outras, algumas que delas derivam ,  que, mal entendidas ou interpretadas , ou deliberado distorcidas, servem para justificar diferentes espécies  de oportunismo , revisionismo  e reformismo .Servindo mais para impedir mudanças do que promove-las ou apressá-las. Ainda mais,  se tais interpretações enfatizadas  junto a citações   respeitadas de mestres como WIU, Marx e Engels .

           Apela-se, por vezes, para justificar erros  mais  para a emoção dos militantes,   provocada por retóricas contundentes , do que para a razão – e isso vindo de “cima para baixo”, vias líderes e intelectuais conhecidos na sociedade . Apelos quase irresistíveis,  que podem levar massas populares a posições nada racionais. Além disso, mais fácil organizar legal e , gradualmente , dentro da lei e da ordem, acreditando em mudanças lentas e graduais e legais, do que prevendo-se dificuldades e traições – embora estas a regra ensinada pela História.

          Diversas dessas questões, entre elas a dos serviços secretos e sua atuação à esquerda ; a da participação nas eleições , nas democracias capitalistas ; a de participação em governos ligados ao IC; a do momento das rupturas e da responsabilidade a respeito; a da questão do oportunismo de intelectuais e dirigentes partidários, durante a luta democrática tática , e do transformismo , referido por Gramsci, em nossos dias ; entre outras, são questões que apreciaremos adiante e que , aqui, foram apenas bosquejadas.(*)

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(* Original não revisado, o que não impede entendimento. Adaptado para divulgar apenas esboço das questões enfocadas , com itens para facilitar.  Não se trata de ensaio acadêmico . Apenas foi  retirado o acima de parte da Introdução,de outro trabalho, mais amplo , sobre as questões do reformismo, revisionismo , oportunismo, não necessariamente nesta ordem.  IC – Império do Capital , termo usado por Ellen Wood ).

         

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