Ferreira Gullar – Jóias da Poesia
abr 2, 2018 by Caminhandojornal
JÓIAS DE GULLAR –
AMOR , SONHOS E LUTAS
Ferreira Gullar. Numa época difícil como a atual , de complexo entendimento, muitos confusos e desesperançados, ao invés de apenas a teoria política , embora pareça estranho para alguns, também a poesia dá caminhos, sintetiza , deixa pitadas de esperança .
Ela envereda por um caminho menos racional e mais intuitivo , chega ao âmago do homem e da sociedade, quando se trata de artistas populares, não limitados pelo medo ou condicionamentos. Um homem engajado , com profundas raízes sociais.
Nos últimos anos de sua vida, podia ser visto em Copacabana , solitário, Posto Três, entrando numa farmácia , passeando , conversando – irreconhecível para muitos jovens, mas rosto marcante para aqueles que já tinham vivido um pouco mais – homem comum, simples, preocupado com seu povo e a cultura até o fim da vida , não milionário ou especulador. Ferreira Gullar foi um lutador pela cultura. Um lutador e poeta e escritor de escol.
São Luís, 1930 – nasce José Ribamar Ferreira de Nascimento, dez irmãos : “Como a vida é inventada eu inventei o meu nome”. Considerado pós-modernista do Maranhão, surge na revista A Ilha, um dos fundadores. Até a morte, o maior poeta vivo do Brasil, para alguns , participando de diversos movimentos. Já no Rio , um poeta inovador. Participou dos CPCs , Centros Populares de Cultura .
Na política,Ferreira Gullar foi militante do Partido Comunista Brasileiro e, exilado pela ditadura militar, viveu na União Soviética, na Argentina e Chile. Depois de anos , como muitos , em vista de uma série de fatos políticos, desiludiu-se e abandonou a política.
Em 2014, imortal da Academia Brasileira de Letras. Morreu em 2016, no Rio. Gullar ocupou a trigésima sétima cadeira da ABL.
Estudar Goulart, lê-lo , curti-lo, um prazer e lição . E refletir sobre sua obra , ações, tempo e até desilusões – há muito a aprender com o imortal poeta. Abaixo , três jóias da poesia brasileira , que contém também aquela preocupação social que o acompanhou durante toda a vida , em especial em períodos mais marcantes – e que , por isso, melhor caracterizam os considerados pontos mais altos de sua obra.
[ Lembrando Ferreira Gullar , falecido em 04 de dezembro, 2016, há dois anos-86 anos. ]
(Maria Lúcia Lima)
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UM
Cantiga para não morrer
Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
DOIS
Subversiva
A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.
TRÊS
Dois e Dois são Quatro
Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
como é azul o oceano
E a lagoa, serena
Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena
– sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.
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(Original não revisado , o que não impede o entendimento. Confira a obra de Ferreira Gullar. Vale à pena).
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