1889/2019: República, militares , imperialismo …?
1889/2019: República, militares , imperialismo …?
* Apresentação resumida de PROGRAMA ESPECIAL de CAMINHANDO JORNAL TV 34 , TVC/ RJ E YOU TUBE *
(Mauro M.Burlamaqui)
A Proclamação da República , 15 de novembro de 1889, até hoje provoca controvérsias, ao mesmo tempo que o episódio mostra sentido e similaridades com outros, passados, bem como com o presente do país .
Quanto à primeira questão, de um lado Basbaum lembra uma “comédia de absurdos”, citando fatos como o povo surpreso e “bestificado” com o “golpe” militar , assim como com um monarquista como Deodoro ter não proclamado a República , mas destituído o Gabinete Imperial, embora acabando por derrubar a monarquia ,via Constant, Patrocínio e outros ; de outro lado, Werneck Sodré critica essas perspectivas, que seriam destinadas a minimizar o papel do povo no despertar da República .
Este ressalta lutas populares anteriores (Balaiada ,Cabanagem , Praieira, etc.) , um progressivo desenvolvimento de condições políticas, de luta de cunho nacional pela República que chega , afinal , via intervenção militar .
De qualquer modo , dúvidas que se explicam pela intenção de uma Historia Oficial em ver apenas as aparências, mascarando-se ou escondendo-se o fundamental , por interesses políticos, prevalecendo a história dos vencedores , como lembra Honório Rodrigues.
Há uma linha histórica sequencial, que se repete em momentos de nossa vida política , e que chega a nossos dias .Por exemplo, a presença militar (em 1822, 1889 ,1930, 1937, 1954, 1964, 1968, etc.), chegando a 2019, com a administração de presidente militar , cercada de auxiliares também militares .
Além dessa presença militar , há outros fatores que se repetem em diferentes e cruciais momentos de nossa história – dívida pública e dívida externa crescentes , pouco confiáveis, não auditadas ; influência e dependência de potências imperialistas(Inglaterra e EUA, em especial), as quais aquelas dívidas estão relacionadas ; autoritarismo ; impunidade ; “democratismo” , e não democracia, no sentido de uma “democracia formal” , aparente , e não material , substantiva ; corrupção histórica .
E um estado de exceção(Agamben) , informal e implícito, onipresente , que não é ditadura nem mesmo constitucional , travestindo-se de estado democrático de direito , daí capaz de sutis manobras judiciais nada imparciais , com essência política. Atos, despachos , decisões , interpretações , mascaradas como imparciais , tendo objetivos e direção certa . Nelas, o verdadeiro sentido das normas distorcido, por essas vias , lembra Paulo Napoleão , para favorecer interesses de frações políticas predominantes , partes do bloco dominante de poder . Com isso, é verdade , evitando-se crises institucionais perigosas para o regime , mas impondo-se descumprimento implicito de normas constitucionais e leis , ou até mesmo “golpes de estado”.Tal recurso esperto para tangenciar crises e proteger “elites no poder “, frente a pressões políticas e ou militares irresistíveis , capazes de romperem com as instituições e o suposto estado democrático de direito .
O estado de exceção informal , implícito , preserva, desta forma , as instituições , protege-as , com a suspensão eventual e temporária da aplicação de certas normas, atuando numa zona “cinzenta” . Evita-se riscos de rompimento, poupando a coletividade de crises talvez sem qualquer saída institucional, legal .
Seria , de algum modo , mais um “jeitinho” graves crises , muitas vezes, sendo respondidas e/ou atendidas ou superadas sem soluções auto-destrutivas , quem sabe até mesmo um “ golpe” qualquer, legal ou militar, mas socialmente chocante , com algum tipo de rompimento constitucional explícito, desgastante .
Representa esta via indireta, não explícita, informal , mas materialmente existente , um meio de preservação das instituições vigentes , ainda que distorcendo-se princípios constitucionais , o que tem pouca importância na medida em que tal passa desapercebido pela maioria da coletividade.
Nesses casos , há , sempre, a colaboração da mídia , apoiadora do bloco dominante de poder , favorável aos interesses das frações preponderantes , e de todo o aparato ideológico dominante apto a sempre cumprir seu clássico papel .
Esse recurso para jurídico, institucional, mas informal, tem ocorrido e ocorre não só no Brasil , desde décadas (caso do impeachment de Dilma, por exemplo, nos moldes impostos por Lewandowsky e Renan Calheiros, então presidentes do STF e Senado , respectivamente, que retiraram a presidente do poder mas não lhe aplicaram a pena constitucional prevista,no caso de 8 anos de direitos políticos suspensos , face a esdrúxula interpretação jurídica deles próprios, ratificada pelas instituições envolvidas ) .
Nos EUA, essa forma de solução de problemas e atendimento de fortes pressões e/oureivindicações foi bem documentada, dando , origem , p.e. , a filmes (como “Vice”, de Adam McKay) , que comprova a Guerra contra o Iraque levada adiante via manobras jurídicas ilegais, de interesse político, lideradas pelo então Vice-Presidente Dick Channey , na defesa de empresas petroleiras. O mesmo ocorreu, ainda quanto aos EUA, no que se refere a casos como os das torturas e prisões em Guantânamo, base americana localizada na Ilha de Cuba,
A Proclamação da República, 1889, mostra-nos a presença de alguns fatores como os descritos. Afirma-se uma República Americanizada da Espada , autoritária, pouco democrática, eivada de corrupção , com empréstimos vultosos dos impérios , então aqui em disputa, mais tarde compostos e aliados entre si . Que logo cederá lugar às velhas oligarquias, do café , por suas vez ligadas a interesses imperialistas americanos.
Naquela república, liderança militar , vão aparecer imitações acintosas e sem sentido de práticas americanas, caso de nomear-se como o país como “Estados Unidos do Brasil”, com uma bandeira que imitava a americana , até nas listras , ainda havendo a apreensão de livros críticos da política dos EUA , caso de “A ilusão americana”, de Eduardo Prado” (1893) , o que argumenta por si só . Mais ainda – na Baía da Guanabara , uma esquadra americana, dirigida pelo Contra-Almirante Benham, pró-regime , a amedrontar , com canhonaços, frágeis barcos brasileiros, de militares discordantes da política republicana florianista.
Fatos assim foram notados por diferentes autores, em diferentes épocas , ao estudarem diferentes fatos de nossa história , caso de Bello, Hélio Silva, Honório Rodrigues, Paulo Napoleão, Laurentino Gomes , Moniz Bandeira (em relação aos EUA) , Sodré, Basbaum , Cruz Costa, entre outros.
Ao observarmos os últimos anos , no Brasil , em especial 2019, vamos notar , mais uma vez, quadro político, social e econômico com algumas características similares – o Brasil aparece como prisioneiro aparente daquele passado de dívidas, militarismo, autoritarismo, democracia falseada , submissão ao imperialismo , velhas algemas e correntes toldando-lhe o progresso e o desenvolvimento . Os brasileiros incapazes de ou negociarem saídas ou romperem com algemas e correntes por seus próprios meios , quebrando-as ou rompendo-as , ainda que seja pela força .
“… o Brasil não é só um baldio abandonado às experiências e avidezas dos aventureiros nacionais : é uma prêsa voluntária , oferecida às liberalidades e intrigas da absorsão estrangeira . Operários brasileiros , se não renunciais à vossa terra , olhai, enquanto seja tempo , pela vossa pátria”(sic) .
Válido para os dias de hoje ? Isto assinalava Rui Barbosa , em 1910 .(“Campanhas Presidenciais).
Mas, a vida dos brasileiros , do Brasil, continua , os brasileiros e há que pensar e agir e reagir , não só em nome de nosso presente como pelo país que herdarão nossos filhos , netos, os nacionais que aqui permanecem.
O estudo da República permite-nos levantar questões como as acima, bem como encarar outras , cotejando fatos, repensando a História , retirando lições que podem ser importantes e úteis tanto ao presente como para o futuro.
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(Original não revisado , o que não impede o entendimento . Artigo original, em que se baseia esta apresentação, pode ser encontrado em caminhandojornal.com ).
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