Dinheiro Público Para a Compra de Votos

jan 5, 2018 by

Dinheiro Público Para a Compra de Votos

Dinheiro público para a compra de votos

                         
     Aylê-Salassié F. Quintão

                    Até o final de 2017 acreditava-se que “deduragem”, “leviandade” e “chantagem” eram adjetivos que distinguiam e desqualificavam os sujeitos que praticassem tais ações. Não são. São substantivos, de acordo com o dicionarista Silveira Bueno. Pois estamos começando 2018 com essas práticas sendo naturalizadas e até institucionalizadas, ganhando materialidade.  A crise contribuiu para dar sentidos novos à palavras e conceitos que  empobrecem as virtudes da cidadania. “Deduragem”, inspirada em traição, ganhou  status jurídico de colaboração premiada e de acordo de leniência; “leviandade” tornou-se um  instrumento comum nos embates ideológicos; e  “chantagem” uma palavra saída dos porões  da criminalidade, passou a ser manipulada como estratégia de marketing ou de lobby.

                    “Liberar  recursos de bancos públicos em troca do voto não é chantagem, é “ação de governo”, explicou ministro Carlos Marun, chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, após participar de uma reunião com o Presidente no Palácio do Planalto. O encontro tinha o objetivo de discutir a liberação de créditos em bancos do Estado para governadores e parlamentares, com o fim de obter apoio para  a votação da reforma da Previdência, no dia 19 de fevereiro. Marun admitiu que está usando a Caixa Econômica Federal como moeda de troca: “São ações de governo”, insistiu . No Planalto e na Câmara há um esforço concentrado, aparentemente sem limites, para conquista dos 308 votos necessários a aprovação  da nova Previdência.

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                    Como advogado, supostamente conhecedor da origem latina dos vocábulos que compõem a língua portuguesa, talvez Marum tenha razão. Do Latim, passando pelo português arcaico, pelo nhengatu, e pela língua brasileira descoberta pelos modernistas houve, provavelmente, uma evolução dessas  palavras-conceitos que orientam o comportamento social. Mas o cidadão comum conectado,  que leu as declarações do ministro no Yahoo, tem outro entendimento. Uma amostragem de opiniões, coletadas no Yahoo, revelou  que :

                   S: É corrupção, é antiético, é roubalheira, é negociata, é   incompetência, má gestão do dinheiro público….  E: …dinheiro dos impostos arrecadados é da UNIÃO/ CIDADÃO e não de um partido ou suas  coligações. O MP, deve investigar… J:  … é ação de governo corrupto. C: …conversa de político corrupto… mostram sua verdadeira face ! J desvio de dinheiro da … educação, transporte, segurança e saúde. G: Put@ri@ e S@canagem agora mudaram de nome!!!!.. L: …Cabe responsabilizar o governo caso as pessoas sejam prejudicadas em algum tratamento medico ou mesmo vir a óbito…C: Nenhum ladrão acha que roubar é crime… nunca é ilegal ou imoral. H: Agora entendo o que aconteceu na Turquia, … …Falta de respeito com o contribuinte. R: Devem ser cassados e presos por mentirem, enganarem, chantagem… “INTERVENÇÃO MILITAR URGENTE”.

                 Depois de agressões quase impublicáveis, um segundo grupo reagiu também:  R: …estão privatizando a previdência… a Petrobras está entregando produtos adulterados … estamos andando em circulo ou estamos no circo? N: ação para desviar + dinheiro e atender os interesses escusos !!!! M: …os políticos não abaixam o salário deles.  J: Triste ver o tipo de “convencimento” que o governo usa em nosso país ! Vale lembrar que utilizar bancos oficiais como instrumento nessas ações se constitui crime…do mesmo tipo cometido pela Dilma – “Pedalada Fiscal”…. M: vamos reformar, colocar os políticos para aposentar igual o povo, ganhando dois salários mínimos, e vamos reduzir o numero de deputados. C: …desfaçatez de uma classe que se habituou ao ilícito…. ALS: …os ministros do STF não podem permitir isso. DSP: O bandido por profissão e ministro nas horas vagas declara que barganhar apoio com recursos dos fundos públicos…é para atender aos interesses do governo, pior … é ver nossas autoridades não se pronunciarem…, o pais está perdido..

             Na realidade, a prática começou no governo FHC, na votação justamente da reforma da Previdência. Propagou-se pelos governos Lula, também na Previdência. Entrou pelo governo Dilma, no impeachment e aprofundou-se na gestão Temer, nas votações das reformas política e da trabalhista e nas autorizações ou não do Congresso para o julgamento, pelo Supremo, do processo contra Temer,  resultante das delações dos irmãos Batista . Mesmo reconhecendo a importância da reforma da Previdência, é preciso admitir que o argumento de Marum não se sustenta, nem mesmo entre aqueles que tendem a aprovar o governo Temer. A atitude do ministro atropela eticamente a formação do brasileiro  na escola e na família, que não deve ser violentada por casuísmos, decretos-lei, nem medidas provisórias. É urgente retomar, de alguma forma, o mundo das virtudes, antes que o País se desintegre moralmente nas próximas eleições.

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